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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Estudo diz que floresta amazônica é uma vilã do aquecimento global

A seca histórica que arrasou com a Amazônia no ano passado mostra agora consequências ainda mais preocupantes. Esta semana, cientistas revelaram que as árvores da região perderam o viço normal. Estão menos verdes.

E um estudo divulgado pela revista americana Science vai ainda mais longe: a floresta amazônica é agora uma vilã do aquecimento global.

A água define a floresta Amazônica. Na cheia, acumula um quinto da água doce de todo o planeta. E, de repente, a água se vai. No ano passado, a seca foi tão intensa, que durante meses comunidades inteiras ficaram isoladas.

Em 2005 a seca já havia sido recorde. Agora, sabe-se que a de 2010 foi ainda mais forte. A área no mapa que mostra a diferença entre a área com falta de chuvas em 2005 e 2010 aumentou muito. Atingiu quase 60% da floresta no ano passado.

Em Mato Grosso, em uma fazenda, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia estuda o impacto da seca na floresta. O cientista Paulo Brando mostra o poço para medir a água do solo.

“Durante a seca vocês perceberam que secou lá, aos 10 metros de profundidade? Sim, tem uma seca progressiva, a até dez metros de profundidade, conforme as plantas vão utilizando essa água profunda”, diz o cientista.

Isso é feito em 180 pontos da Amazônia. Milhares de árvores são marcadas, numeradas, e, mais de uma vez por ano, cada uma delas recebe uma visita.

“A gente mede quanto que ela cresceu, a saúde da copa. É lógico que a gente tem a localização dessas árvores”, revela Paulo Brando.

Algumas têm anéis que se expandem junto com o tronco. Com esses experimentos, os cientistas podem calcular o que aconteceu na maior floresta do mundo durante a seca do ano passado. Centenas de milhões de árvores morreram.

A gente pensa que são as árvores pequenas, ainda em fase de crescimento, as mais frágeis, mas os cientistas já descobriram que não. São as grandes árvores, os gigantes da floresta, as primeiras a sucumbir.

Uma árvore com 30 metros, 100 anos, morreu de sede. A Mirindiba precisava de 500 litros de água por dia. Ainda está em pé, mas a casca está se descolando, as formigas levando os restos.

“Morreu, perdeu a copa, e tem uma infestação de cipós em cima dela. Provavelmente, se tiver um vento muito forte ela vai cair”, conta o pesquisador.

E caindo, pode levar outras 20 árvores com ela, abrindo uma clareira. Multiplicadas essas mortes pela imensidão amazônica, a floresta inverteu seu papel: em vez de capturar o gás carbônico, e assim diminuir o efeito estufa, ela passou a emitir, e muito.

Entenda por que: para uma árvore crescer, ela precisa de carbono e esse carbono é capturado no ar, a árvore retira da atmosfera o gás carbônico. Quando a árvore morre, no processo de decomposição, a maior parte desse gás é liberada de volta.

Normalmente a floresta Amazônica retira mais gás carbônico da atmosfera do que emite e chega ao final de um ano com um saldo positivo, de 1,5 bilhão de toneladas. Só que a seca do ano passado provocou uma redução no ritmo de crescimento da floresta. E, com isso, ela deixou de capturar três bilhões de toneladas.

Além disso, a mortalidade de milhões de árvores vai provocar a emissão de outros cinco bilhões de toneladas. Um número dá importância dessa emissão: os Estados Unidos, com toda a sua produção industrial e seus automóveis, emitem 5,4 bilhões de toneladas por ano.

Nem todo esse carbono é liberado de uma vez. Mas isso já é suficiente para inverter o papel da floresta? “Com a seca de 2010 e de 2005, essas florestas se tornaram emissoras de carbono nesses cinco anos. Então, ou seja, a resposta é que sim”, explica.

A Amazônia, que sempre ajudou o planeta a combater o aquecimento, agora pode acelerar dramaticamente esse processo. A relação direta das secas mais frequentes com o aquecimento global ainda não foi comprovada. Se elas não se repetirem, anos com boa chuva podem fazer a floresta se recuperar, diminuindo esse estrago.

Mas nos próximos anos, a Amazônia está vulnerável. As árvores mortas permitem que mais luz chegue ao chão. Tem mais folhas e galhos secos espalhados, ambiente perfeito para outro inimigo da floresta: “Mais importante do que a seca em si, talvez seja sua interação com o fogo. Em ano de seca, as florestas ficam mais vulneráveis ao fogo. E, se o fogo correr, tem um potencial para a mortalidade de árvores muito maior e uma liberação de carbono muito maior”.

Um processo que seria desastroso para a floresta e para todo o planeta. Mas, pelo menos, o fogo está ao nosso alcance evitar.



Fonte: G1/Fantástico

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